sábado, 10 de dezembro de 2022

A morte do artista - 3 propostas sobre o assunto

A morte do artista

Este tópico para mim tem três sentidos igualmente interessantes de ser explorados – “a morte da arte” pela sua transformação infeliz em algo banal, devido à quantidade de “promoções” a que somos submetidos diariamente; o fim da carreira de um artista por meter o pé na poça e o falecimento literal do individuo.

Ora a primeira, que é abordada aliás na sebenta do professor, tem muito que se lhe diga a decadência da arte, não por ter ficado pior ou melhor, mas porque se tornou mais “comum” e acessível. É a tal questão de já não haver autores soberanos que possam estar muito seguros que vão ter uma cadeira debaixo do rabo, porque há milhares de “jovens promessas” que aparecem todos os dias a pedir um lugar ao seu editor. Sim, tornou-se mais fácil sermos descartados, de nos tornarmos banais, por muito bons que sejamos. Sermos brilhantes pode ser um rótulo numa semana, para na semana seguinte já sermos meros desconhecidos para a sociedade. Mas penso que é assim em tudo – vivemos numa sociedade onde há muito de tudo para quem tem dinheiro e muito pouco para quem não o tem. Logo, os artistas e os livros não são os únicos amaldiçoados, apesar de serem sem dúvida mais propícios do que outros sectores: também o são os novos IPhones sempre que sai um “ainda mais novo” Samsung, uma coleção de roupa quando no ano seguinte as flores já não são moda, um cantor no Top  Billboard que na semana seguinte já não está no Top 10 (e por isso, já não passa nas rádios). É a morte do mundo, dominado por uma indústria de “fast-tudo”. Se tentarmos transformar-nos continuamente no que é trendy, falecemos enquanto artistas individuais. A escolha para muitos parece ser falecer dos “top” ou falecer na sua individualidade, sim. E a verdade, é que quer havendo “muito bom” ou “muito mau”, não há notas suficientes para tudo.

A grande desvantagem de estar tudo disponível a olho público hoje-em-dia é que basta um artista meter o pezito na poça, para o mundo todo o saber (desvantagem quando somos nós, sorte quando são os outros, diga-se desde já). É então que vêm os movimentos de cancelamento dos seus novos “anti-fãs” e de companhias privadas, como o Instagram e o Twitter, que rapidamente cancelam a sua conta. Bem lixado estaria o Michael Jackson se houvesse Instagram na sua altura, permitam-me dizer. Se é uma vantagem ou desvantagem? A verdade é que cada um é livre de fazer e dizer o que quiser, mas o limite que sempre me ensinaram, é que se para quando isso afeta os outros. E se realmente há discursos abusivos de pessoas que têm milhões de seguidores, então concordo que não se deem mais plataformas para o distribuir. Se há peixes pequenos que morrem antes de terem hipótese de mostrar o seu talento por um pequeno mal-entendido? Há. E então? Não há bens, sem males (solução preguiçosa, bem sei, mas não vejo outra).

A terceira perspetiva a esta questão, já é esticar a corda ao assunto, devido a uma compreensão mais literal da minha parte – a morte literal de um artista. Sobre este ponto, sei que a morte de um artista conhecido faz com que se gerem novos estudos, novas edições da sua obra, e até mesmo homenagens e exibições sobre a sua vida. Não fosse morrer uma coisa tão chata, tenho a certeza que seria uma técnica comum e proveitosa de divulgação. Porém, o chato de se realçar algo é que tanto os nossos fãs, como os nossos piores admiradores, o vão comentar. O mesmo para quando se cava um buraco e se analisa o que estava enterrado: tanto se pode vir a descobrir um capítulo glorioso para a história de uma nação, como o seu momento mais negro e vergonhoso. Ora a crítica, mesmo que negativa, traz novos leitores e novos estudos sobre o assunto, que às vezes trazem a sorte de converter “agressores” em “defensores”. De facto, a crítica pejorativa poderá certamente trazer benefícios, mas é menos segura e mais lenta do que ser logo banhado em rosas - vamo-nos esquecendo dos nomes de maus autores, que depois de toda a gente lhes dar cacetadas, não entram em Planos Nacionais de Leitura e saem das estantes de livrarias.

Se o artista não for conhecido, provavelmente só ocorrerá uma partilha do seu trabalho por parte da sua família e amigos, que, com as atuais tecnologias e um pouco de sorte, pode de facto virar trendy ou chegar aos olhos de um editor qualquer. Bom seria que essa fosse a norma, mas há muita coisa online com qualidade que se vai perdendo, por nunca chegar a um distribuidor com capacidade para a promover devidamente. Ou seja, este último caso terá sempre um alcance pequeno se não chegar a um big shark.

A beleza do fast-food é a quantidade de “pode” que traz! A tristeza da vida é que os milagres não são comuns.

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  A Greta . Ainda não fui lá, embora nem seja longe de onde moro.