A morte do artista
Este tópico para mim tem três sentidos igualmente
interessantes de ser explorados – “a morte da arte” pela sua transformação infeliz
em algo banal, devido à quantidade de “promoções” a que somos submetidos
diariamente; o fim da carreira de um artista por meter o pé na poça e o falecimento
literal do individuo.
Ora a primeira, que é abordada aliás na sebenta do
professor, tem muito que se lhe diga – a decadência da arte, não por ter
ficado pior ou melhor, mas porque se tornou mais “comum” e acessível. É a
tal questão de já não haver autores soberanos que possam estar muito seguros que
vão ter uma cadeira debaixo do rabo, porque há milhares de “jovens promessas”
que aparecem todos os dias a pedir um lugar ao seu editor. Sim, tornou-se mais fácil
sermos descartados, de nos tornarmos banais, por muito bons que sejamos. Sermos
brilhantes pode ser um rótulo numa semana, para na semana seguinte já sermos
meros desconhecidos para a sociedade. Mas penso que é assim em tudo – vivemos numa
sociedade onde há muito de tudo para quem tem dinheiro e muito pouco para quem
não o tem. Logo, os artistas e os livros não são os únicos amaldiçoados, apesar
de serem sem dúvida mais propícios do que outros sectores: também o são os
novos IPhones sempre que sai um “ainda mais novo” Samsung, uma coleção de roupa
quando no ano seguinte as flores já não são moda, um cantor no Top Billboard que na semana seguinte já não
está no Top 10 (e por isso, já não passa nas rádios). É a morte do
mundo, dominado por uma indústria de “fast-tudo”. Se tentarmos transformar-nos continuamente
no que é trendy, falecemos enquanto artistas individuais. A escolha para
muitos parece ser falecer dos “top” ou falecer na sua individualidade, sim. E a
verdade, é que quer havendo “muito bom” ou “muito mau”, não há notas suficientes
para tudo.
A grande desvantagem de estar tudo disponível a olho público
hoje-em-dia é que basta um artista meter o pezito na poça, para o mundo todo
o saber (desvantagem quando somos nós, sorte quando são os outros, diga-se
desde já). É então que vêm os movimentos de cancelamento dos seus novos “anti-fãs”
e de companhias privadas, como o Instagram e o Twitter, que rapidamente
cancelam a sua conta. Bem lixado estaria o Michael Jackson se houvesse Instagram
na sua altura, permitam-me dizer. Se é uma vantagem ou desvantagem? A verdade é
que cada um é livre de fazer e dizer o que quiser, mas o limite que sempre me ensinaram,
é que se para quando isso afeta os outros. E se realmente há discursos abusivos
de pessoas que têm milhões de seguidores, então concordo que não se deem mais
plataformas para o distribuir. Se há peixes pequenos que morrem antes de terem
hipótese de mostrar o seu talento por um pequeno mal-entendido? Há. E então?
Não há bens, sem males (solução preguiçosa, bem sei, mas não vejo outra).
A terceira perspetiva a esta questão, já é esticar a corda
ao assunto, devido a uma compreensão mais literal da minha parte – a morte literal
de um artista. Sobre este ponto, sei que a morte de um artista conhecido
faz com que se gerem novos estudos, novas edições da sua obra, e até mesmo homenagens
e exibições sobre a sua vida. Não fosse morrer uma coisa tão chata, tenho a
certeza que seria uma técnica comum e proveitosa de divulgação. Porém, o chato
de se realçar algo é que tanto os nossos fãs, como os nossos piores admiradores,
o vão comentar. O mesmo para quando se cava um buraco e se analisa o que estava
enterrado: tanto se pode vir a descobrir um capítulo glorioso para a história
de uma nação, como o seu momento mais negro e vergonhoso. Ora a crítica, mesmo
que negativa, traz novos leitores e novos estudos sobre o assunto, que às vezes
trazem a sorte de converter “agressores” em “defensores”. De facto, a crítica pejorativa
poderá certamente trazer benefícios, mas é menos segura e mais lenta do que ser
logo banhado em rosas - vamo-nos esquecendo dos nomes de maus autores, que
depois de toda a gente lhes dar cacetadas, não entram em Planos Nacionais de Leitura
e saem das estantes de livrarias.
Se o artista não for conhecido, provavelmente só ocorrerá uma
partilha do seu trabalho por parte da sua família e amigos, que, com as atuais
tecnologias e um pouco de sorte, pode de facto virar trendy ou chegar
aos olhos de um editor qualquer. Bom seria que essa fosse a norma, mas há muita
coisa online com qualidade que se vai perdendo, por nunca chegar a um
distribuidor com capacidade para a promover devidamente. Ou seja, este último
caso terá sempre um alcance pequeno se não chegar a um big shark.
A beleza do fast-food é a quantidade de “pode” que
traz! A tristeza da vida é que os milagres não são comuns.
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