quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Minha versão do poema "Cheers", de Raymond Carver

 

Um brinde

 

Vodka seguida de café. Todo dia

Colo um papel na porta


SAÍ PARA ALMOÇAR

 

Mas ninguém liga;

Meus amigos olham pro papel

Às vezes eles deixam uns recadinhos

Ou gritam lá fora — Aparece aí,

Rai-mun-do.

 

Uma vez, meu filho, aquele sem-vergonha,

Entrou aqui de fininho e deixou pra mim um ovo de capoeira

E uma bengala

Eu acho que ele deu uns goles na minha vodka 

E na última semana foi minha mulher que deu uma passadinha

Com uma lata de sopa de carne

E um balde de lágrimas

Ela também deu uns goles na minha vodka, eu acho

Depois foi embora num carro estranho

Com um cara que eu nunca vi

Eles não acreditam; mas eu tô bem,

Eu fico bem aqui onde eu tô, e onde daqui pra frente

Eu vou tá, eu vou tá, eu vou tá...

 

Pretendo usar todo tempo do mundo

Esperando qualquer coisa, até um milagre,

Mas sempre desconfiado

Mais cuidadoso, mais ligado

Naqueles que podem cometer algum pecado contra mim

Naqueles que podem roubar minha vodka

Naqueles que podem me fazer mal.



(Cristiano Borba)

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