Raymond Carver - Saúde
Vodka misturada ao café. Toda manhã
Eu penduro o aviso na porta
PAUSA PARA O ALMOÇO
Mas ninguém repara; meus amigos
olham para o aviso e
às vezes deixam bilhetinhos,
ou ainda chama - Vem brincar,
Ray-mond.
Uma vez o meu filho, aquele bastardo,
entrou de fininho e deixou-me um ovo colorido
e uma bengala.
Eu acho que ele bebeu um pouco da minha vodka.
E na semana passada a minha mulher passou por aqui
com uma lata de sopa de carne
e uma caixa de lágrimas.
Ela bebeu um pouco da minha vodka também. Eu presumo,
e partiu apressadamente no carro de um estranho
com um homem que eu nunca vi antes.
Eles não percebem; eu estou bem,
bem onde estou, de qualquer dia a partir de hoje
ficarei, ficarei, ficarei…
Eu pretendo ter todo o tempo do mundo,
ter em conta tudo, até milagres,
mas manter a guarda, sempre
mais precavido, cuidadoso
àqueles que me amaldiçoariam,
àqueles que roubariam a minha vodka,
àqueles que me fariam algum mal.
Mariana Silveira
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